Contra a indiferença e o desconhecimento que reina entre a maioria dos residentes dos prédios das cidades, um jovem casal lançou a iniciativa "Prédios que falam". Em 67 prédios do país, esta terça-feira será um dia diferente.
Carla e Rodrigo Dias já tinham ouvido falar do Dia Europeu dos Vizinhos e, este ano, decidiram que iam participar, fazendo alguma coisa no prédio onde vivem, no centro de Lisboa. Em conversa com amigos, perceberam que havia mais interessados em aderir à ideia e, através da internet, decidiram criar a iniciativa "Prédios que falam". Um projecto que pretende pôr os vizinhos a falar uns com os outros, através de pequenos desafios diários, como seja oferecer doces e flores ou colocar um pensamento do dia à entrada do prédio ou no elevador.
"A ideia é fomentar um ambiente de entre-ajuda e amizade num local onde as pessoas vivem imenso tempo juntas, mas que raramente falam", disse, ao JN, Rodrigo Dias, que teve esta ideia durante um curso de desenvolvimento social e comunicação, em Londres. Os desafios são "o pretexto para que as pessoas comecem a falar" e, no seu caso, já lhe permitiram conhecer o vizinho de baixo, que nunca vira: um senhor de 87 anos que vive sozinho.
"É também uma forma de estarmos alerta para pessoas que vivem sós, ou que possam precisar de alguma coisa", reconhece Carla Barros, admitindo que, a partir de agora, estará muito mais à vontade para bater à porta dos vizinhos se tiver alguma falta em casa.
Inicialmente, o casal pretendia envolver 100 prédios mas, afinal, houve apenas 67 inscrições de todo o país e até do estrangeiro: uma de Barcelona, outra da Guiné-Bissau. Ao "líder", o condómino que teve a ideia de inscrever o prédio, foi enviado material para divulgar a iniciativa junto dos vizinhos e um manual de instruções com sugestões de actividades que deveria dinamizar entre o dia 20 e o dia 25. A festa termina hoje, com um convívio entre vizinhos.
Ana Almeida já conhecia esta ideia de quando viveu em Paris e não hesitou em inscrever o prédio onde vive, num condomínio em Alcântara. Das sete fracções, aderiram quatro e um dos desafios mais bem sucedidos foi o de decorar as caixas do correio. "Os miúdos andam excitadíssimos", disse, admitindo que esta iniciativa "já deu para nos aproximarmos" e conseguir que crianças que antes mal se falavam começassem a brincar juntas no parque infantil do condomínio.
A vizinha do 3.º andar esquerdo, Rosa Mimoso, também aderiu à iniciativa e logo à noite vai estar no convívio que Ana vai preparar em sua casa. "Vou convidar os meus vizinhos para a sobremesa", revelou, explicando que vai desafiar mesmo os condóminos que não se quiseram inscrever. Ana acredita que esta experiência vai uni-los mais a todos. "Há coisas que não vão voltar para trás".
_____
Fonte: Jornal de Notícias, 26-05-2009
Sem comentários:
Enviar um comentário