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sábado, 13 de dezembro de 2008

Um gigante às portas de Lisboa

Num vale circundado por terrenos baldios e edifícios residenciais algo desordenados, onde de um lado se vêem blocos de apartamentos e do outro casas térreas que não seguem qualquer linha de coerência urbanística, já é possível, através das enormes vigas de betão, obter um esboço da monumentalidade daquela que se apresentará no próximo ano como a maior superfície de consumo do país.

O terreno, antes propriedade do grupo Auchan, um dos clientes do grupo espanhol Chamartín, foi aquele que se apresentou, aos olhos dos responsáveis da empresa, como o mais atractivo. Afinal trata-se de uma zona para onde poderão confluir os potenciais consumidores residentes nos concelhos de Loures, Oeiras, Odivelas, Sintra, Amadora e Lisboa.

O grupo espanhol pretende, com os 275 milhões de euros investidos, canalizar para esta zona do concelho da Amadora 18 milhões de pessoas por ano, que chegarão ao novo centro comercial através do IC 16. A construção de uma rotunda com acesso directo à via rodoviária que liga os vários concelhos da área metropolitana de Lisboa e de uma avenida que atravesse a parte frontal do edifício são alguns dos compromissos do grupo, de modo a cumprir uma das premissas de um projecto desta natureza: a facilidade de acesso e de circulação dos condutores que se deslocarão, a partir de Maio de 2009, ao Dolce Vita Tejo.

(...) Uma realidade transversal à maioria dos países ocidentais, onde os shoppings se posicionam como "uma espécie de idealização da vida urbana: limpa, asséptica, organizada, segura, ou seja, tudo o que a cidade real não é, ou as pessoas acham que não é", nota o sociólogo Alberto Gonçalves. Mas, a avaliar pelas alternativas de lazer existentes nas cidades, a sua influência ganha ainda maior relevância. "Há cinemas, restaurantes e quase todas as poucas alternativas à televisão que os padrões actuais de lazer permitem. Vai-se ao shopping porque é fácil. Mas também se vai porque as pessoas não vêem muito mais para onde ir", explica o sociólogo da Universidade Católica.

A sua repercussão não é apenas social, e a forma como estas superfícies comerciais têm vindo a ser integradas no tecido urbano das grandes cidades é uma questão que tem suscitado a atenção de arquitectos e urbanistas.

Com um total de 42 superfícies do género, das 107 existentes em Portugal, a Área Metropolitana de Lisboa é um dos casos onde a construção de centros comerciais tem seguido duas vias distintas: a integração em zonas urbanas já consolidadas e a construção em locais periféricos, por vezes degradados urbanisticamente. O Amoreiras e o Vasco da Gama seguem o primeiro modelo. Já um Odivelas Parque ou o centro que está para surgir na Amadora seguem, na opinião do arquitecto e professor universitário João Rafael Santos, uma linha urbanística pouco dignificadora para as cidades.

Nesta matéria "o importante é saber como estas estruturas se articulam ou se são capazes de se articular com a estrutura urbana envolvente", diz João Rafael Santos. Os maus e os bons exemplos existem um pouco por todo o lado e, se não nos centrarmos apenas nos casos cuja vocação foi contribuir para a degeneração urbanística, destaca-se então o Vasco da Gama pelo contributo dado para a revitalização da zona oeste da cidade de Lisboa. O facto de ter sido pensado numa lógica de integração com outras funcionalidades urbanísticas é motivo suficiente para merecer o aplauso do arquitecto: "É um centro que polarizou uma zona que correspondeu à antiga Expo e que, por estar situada numa estação intermodal de transportes, por estar num espaço urbano pensado desde o início com aquele grande espaço comercial, por ter uma relação fácil e directa com o espaço público envolvente, contribuiu não só para dinamizar a área em termos de funções, mas também para integrar o centro comercial como elemento urbano qualificado."

Em muitos casos, o mesmo não terá acontecido com a construção de centros comerciais na periferia da área metropolitana, uma tendência posta em prática nos últimos anos e que não tem seguido qualquer lógica de harmonia com o conjunto das áreas metropolitanas onde têm vindo a ser inseridos. Embora não esteja em causa o impulso à dinâmica económica das respectivas comunidades, o que parece questionável é o contributo para a estruturação do território. "Alguns centros comerciais actuais, e falemos de alguns que se encontram na periferia de Lisboa com uma localização determinada apenas pela facilidade de acesso, junto a nós de vias rápidas, funcionam apenas como contentores dentro dos quais se desenvolvem todas as actividades comerciais", opina João Rafael Santos.

"Quando se faz uma intervenção com este impacto, a questão que temos de levantar é se a partir dessa intervenção se consegue reestruturar a envolvente. Se não, alguma coisa ficou por fazer, alguma oportunidade ficou por aproveitar", refere.

A este propósito, o arquitecto menciona, como pilar deste modelo de gestão do território, as contrapartidas que as autarquias e até a administração central retiram dessas decisões. "São, sem dúvida, investimentos muito cativantes para quem tem de gerir um território.

Geram emprego, geram investimento, atraem dinâmica económica e social. Muitas vezes ajudam também a construir infra-estruturas de que os concelhos necessitam, e como tal olha-se para tudo isto com bons olhos. Mas também se levantam questões a longo prazo, ou seja, quais vão ser os custos e os benefícios da sua localização e da sua estruturação.

Colar a este último fenómeno a metáfora de guetização do consumo para a periferia poderá parecer exagero, mas o que é certo é que na génese da construção destas superfícies existe uma lógica "análoga à da criação de um grande bairro social isolado, indiferenciado do ponto de vista social e do ponto de vista das actividades", afirma Rafael Santos

A conclusão parece-lhe portanto óbvia: "Um grande centro comercial como o que está a surgir e como surgiram muitos outros corresponde a um modelo de segregação, de especialização total, que não admite a tolerância, a multifuncionalidade, uma certa promiscuidade no sentido positivo, que é o que gera a dinâmica urbana, o conflito e a multiplicidade que permite uma convivência mais rica em termos de cidadania."

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Fonte: Revista M / Marketing e Comunicação, 05-11-2008

1 comentário:

G.A disse...

eu quero ver é com o belo do casal da mira ali mm ao lado, acho que vao ter de abrir é uma esquadra ali dentro...