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domingo, 5 de abril de 2015

O flagelo das marquises

Há algo muito arrojado numa nova campanha que para aí anda. «Mais varandas, menos marquises», diz o slogan. E a ima­gem mostra uma varanda bem cuidada, janelas brancas e um es­paço aberto com plantas, chapéus de sol, mesas, cadeiras, espre­guiçadeiras e até um armário de prateleiras para arrumar… plan­tas. Um mimo onde apetece passar uma tarde a ler um livro. À volta dessa varanda solitária, marquises. Um prédio normal das nossas cidades – centro e periferia: todas as varandas foram subs­tituídas por quadrículas de vidro e alumínio. Todas diferentes umas das outras em cor, formato, número de portadas. Como se um matemático louco tivesse desenhado o cenário.

O que é arrojado na campanha do Ikea é que normalmen­te as publicidades que nos tentam vender algo fazem-no ao fio do pelo. Não nos contrariam. Quer dizer, pelo menos não nos atiram coisas à cara. Ora esta é diferente. Está o tuga muito contente com a sua marquise que lhe dá para arrumar os sapatos malcheirosos do filho, as roupas da outra estação e mais umas quantas quinqui­lharias e ainda tem uma estufazinha para secar a roupa, e vem uma marca sueca armada em esperta dizer-lhe o que devia fazer com aquele espaço? “Eh, vocês aí em baixo, bafejados pelo sol e pe­la sorte, arranquem lá essa estupidez das vossas marquises, apro­veitem a luz e vamos pôr flores nas janelas!” Ora! Que despropó­sito! Aquele espaço é dele. Conquistou-o ele. Ao arquitecto que de­senhou o prédio – e que desperdiçara aquele retângulo. Aos vizinhos, dando-lhes as costas, os vidros, as cortinas em vez de flores. À cidade, impondo o seu alumínio. À lei, borrifando-se pa­ra as regras de ordenamento.

Aposto com o Ikea que nenhum português que tenha transformado a sua varanda em marquise o fez achando que era melhor ter uma varanda que uma marquise. Por isso não entendo esta campanha. Mas, mesmo não entendendo, espero que surta efeito. Espero que dê um rebate de consciência a todos os que fe­charam as varandas em marquises. E as devolvam à liberdade, às flores e às coisas bonitas. Esta é, simultaneamente uma das lutas da minha existência urbana e um dos maiores mistérios da minha vida. Percebo o contexto: anos 70, 80, as pequenas e mal jeitosas casas portuguesas, a falta de espaço quando a família cresce. E até consigo entender que alguém alargue um quarto e abra uma pa­rede para ganhar mais dois preciosos metros quadrados numa ca­sa de classe média. O que nunca entendi é porque é que se abdica de um espaço de ar livre dentro de casa para o tornar, na melhor das hipóteses, uma despensa, na pior, nada? À minha frente tenho um prédio nada classe média, casas de mais de 150 metros qua­drados e seis assoalhadas. Nove andares. Apenas um não tem va­randas fechadas.

As marquises portuguesas – raras na Europa e bastan­te terceiro-mundistas – combinam a noção da fraqueza da lei e da sua regulamentação, a falta de sentido cívico e o egoísmo lusita­no, a pouquíssima sensação de pertença a uma comunidade e, no final disto tudo, uma enorme estupidez. As varandas foram inven­tadas não só para tornar mais agradável a experiência de viver num apartamento, e torná-lo próximo de uma casa individual, mas também para afastar as humidades, moderar o calor e o frio. Ao fechá-la o tuga está apenas a criar um microclima que lhe dá cabo do ambiente da casa. Para além, obviamente de afastar a luz.

A campanha do Ikea toca num dos flagelos das nossas ci­dades. Várias câmaras já tentaram regulamentar, ordenar, orga­nizar a coisa. Da Amadora a Oeiras. Sem sucesso. Se calhar era mesmo preciso virem uns suecos pôr o dedo na ferida.

Catarina Carvalho

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Fonte: Notícias Magazine, 22-03-2015

30 comentários:

Anónimo disse...

GENIAL! Extremamente bem escrito e 100% bem visto! Infelizmente, cada vez nascem mais... parecem cogumelos!

Anónimo disse...

Pode estar mto bem escrito! Mas cada um faz da sua casa aquilo que mais gosta e com o que se sente bem! Por isso há que respeitar pois isso é que é ser civilizado e viver em comunidade!

Anónimo disse...

Ora já cá faltava o belo pensamento à tuga! "Eu faço o que bem me apetecer e ninguém tem nada a ver com isso"... pois o pior é que até tem... ser civilizado e viver em comunidade é preocupar-se com o impacto que causa uma alteração a uma fachada como é o caso daquela que estamos aqui a falar... já para não falar que (supostamente) é necessária autorização do condomínio para a efectuar...
Mas como belo(a) tuga que é, o pensamento é sempre "primeiro eu e o meu bem estar, os outros que se lixem (com f)!"...

Anónimo disse...

É mesmo este pensamento tuga, provinciano, eu, eu e mais eu. Um total desrespeito pelas regras, pela falta de noção do que é viver e conviver com os outros, respeitanto interesses pessoais sem se sobrepor ao interesse e bem coletivo. Então o projeto do arquitecto que concebeu varandas, não é para respeitar? Não reconheço a qualquer matarruano autoridade para sobrepor os seus interesses à obra intelectual do projetista.

Anónimo disse...

Se na opinião de muitos, cada um faz aquilo com o qual se sente bem, para quê legislar, haver regras? É a anarquia total. Não quero sair do meu país apesar de já me terem convidado a sair, mas na realidade, com estas mentalidades de terceiro mundo ... é desolador ter de conviver com estas pessoas que não alcançam e não têm a noção dos limites a que todos estamos sujeitos e que todos deviam cumprir para vivermos em espaços harmoniosos e não ao gosto de cada um.

Anónimo disse...

Nem mais...

Anónimo disse...

Belo artigo. É uma analogia perfeita com os tugas que insistem em andar com os seus cães soltos independentemente de ser legal ou não (não é), os tugas que insistem em estacionar os seus bólide em cima do passeio (também ilegal), os tugas que continuam a fumar ao redor de não fumadores (é-lhes igual ao litro e a lei também), os tugas que se queixam infinitamente (não é ilegal) e os tugas que emigram porque a relva do vizinho é mais verde que a minha. Somos assim e achamos que somos os maiores. Viva Portugal.

Anónimo disse...

...totalmente de acordo com o texto!!!... Parabéns!!!...e agora há uma nova versão sem alumínio para, de forma hábil, contornar a lei: - as chamadas janelas panorâmicas!!!... pequenas colunas de vidro, de alto a baixo, que fecham as varandas, que correm numa espécie de calha o que permite dizer que não têm estrutura fixa... UMA AUTÊNTICA VERGONHA!!!... são já dezenas em Vila Chã que alteram por completo a fachada dos prédios e transformam a imagem da urbanização!!!... quem se ri é a empresa das tais "janelas panorâmicas" que factura à conta do "buraco na lei" e dos "xicos-espertos" que assim julgam acrescentar mais espaço habitável às suas casas... LAMENTÁVEL!!!

Anónimo disse...

Totalmente de acordo...!!!

Anónimo disse...

Bom artigo. Só estranho que a autarquia não possa atuar como diz. Quando pretendemos fazer obras ou qualquer alteração que tenha como base uma modificação estética no edifício, requer a entrada de um projeto com as alterações a efetuar que posteriormente será, ou não aprovado pela autarquia. Se cada um faz o que quer no "seu espaço", neste caso, das varandas fechadas, não deixa de ter um grande impacto visual e negativo para a paisagem da urbanização, é que no caso destas janelas ditas panorâmicas acabam por tornar estes edifícios em tudo idênticos aos da Reboleira dos anos 60/70. Resolvi comprar casa nesta urbanização porque entre outros aspectos agradou-me e muito a arquitetura dos edifícios e sobretudo, as varandas. Gostaria muito que as pessoas colaborassem com o trabalho da autarquia e ajudassem a manter esta urbanização um espaço agradável para se viver e que antes de pensarem em agir, refletissem um pouco e observassem que existem pessoas ao lado, e que nunca esquecessem o mais importante, o bom senso.

Maria José Pereira disse...

Plenamente de acordo Dona Catarina. Aliás também eu já escrevi sobre o mesmo assunto que pode não ser consensual mas, mesmo assim, é pertinente. O fecho de varandas, que, por vezes fazem ganhar um espaço que nem o justifica, é das coisas menos harmoniosas que me é dado vêr. Prescindir de "open space" para fazer por vezes autênticos mamarrachos é incompreensível.

Maria José Pereira disse...

E será, caros comentadores e certamente vizinhos, que não há nada que possamos fazer para obviar a que sejam criados mais mamarrachos? Pelos vistos a legislação existente nem sequer é aplicada .

Anónimo disse...

Cara Maria José Pereira, isto dá muito dinheiro a ganhar ... Pois é estranho quem pode atuar, não fazer cumprir a lei.

Anónimo disse...

Falamos muito das janelas de vidro - marquises. Eu pessoalmente prefiro a minha varanda aberta da qual tiro imenso partido para estar, mas choca-me sobretudo as varandas fechadas onde ainda colocaram estores brancos opacos no seu interior, transformando a varanda num bloco muito feio, sem vida visto do exterior, outros transformaram essa varanda num espaço para estar, que ficou abrigado do vento e da chuva, onde são visíveis plantas, brinquedos, resumindo VIDA. Há outras estruturas, visíveis do exterior que têm um impacto visual muito mais negativo e são estruturas fixas: aparelhos de ar condicionado colocados em varandas, estendais para roupa fixados nas paredes das varandas,antenas parabólicas em varandas ou janelas.
Fico contente quando vejo que surge mais um condómino transformar a sua varanda num espaço para estar, decorando-a de uma forma agradável para ele em particular, e para os outros que veem. Eu também tenho muita roupa para estender, somos quatro, e ninguém vê roupa estendida à frente das minhas janelas ou pendurada nos varões da varanda. para tudo é necessário, bom censo, estética e algum bom gosto.

Anónimo disse...

Estranho é todos os dias surgir mais uma varanda fechada. Lamentável, nunca pensei que esta urbanização se fosse transformar nos horríveis blocos de marquises. Os arquitetos deviam exigir que o projecto não pudesse ser assim assassinado.

Anónimo disse...

Sim, o cúmulo de fechar as varandas é esta nova moda de as FECHAR mesmo, tornando-as opacas com estores (ou pano branco)... LINDO! Merece um prémio de arquitectura e estética!

Anónimo disse...

As marquises ditas "panorâmicas"(!!!) será que tiveram o aval do condomínio? É pena que tal como aqui se diz, o projecto do arquiteto que desenhou o edifício tivesse que ser respeitado (há direitos de autor que têm de ser respeitados)porque não exigi-lo nestes casos??E a própria autarquia devia legislar no sentido de pôr ordem nesta rabaldaria das marquises fechadas.

Anónimo disse...

Pergunto a quem aqui também comenta: não há nada que possamos fazer para obviar a esta maneira de estar terceiro-mundista? Estou já a vêr que dado o dinheiro que se dá a ganhar a quem põe as varandas que isto qualquer dia pareça mesmo um urbanização do 3º ou mesmo 4º mundos.....!!

Anónimo disse...

Se surgem é porque deixam. Porque não age quem pode agir? Ou será que a autarquia não pode impedir? É horrível porque ainda por cima alguns transformam as tais janelas panorâmicas em marquises quando colocam estores, cortinados. Fica um bloco opaco como já disseram. Mas tb já disseram que cada um faz o que quer no "seu" espaço. Será? Então cada um pode pintar a sua varanda da cor que lhe apetece? Não me parece. Urge tomar uma medida para travar o avanço desta agressão à paisagem tão agradável que "era" a nossa urbanização. O deixa andar de quem tem obrigação de agir tb fez com que os bairros de barracas tenham tomado conta do nosso concelho, não conheço outro igual com tanta barraca. Enfim!

Anónimo disse...

Penso que a medida mais acertada seria cada um de nós fazer uma denuncia na CMA.

Juntos temos mais força do que apenas um.

Anónimo disse...

Tenho conhecimento que quando surgiram as primeiras marquises, denunciaram à Polícia Municipal. Pelo que parece, se estiver aprovado em ata a sua colocação, não há nenhum impedimento por parte da autarquia, e tanto assim é que essas primeiras marquises ainda estão colocadas. São nos edifícios mais baixos que dão para a praceta do parque infantil. Portanyo, tv muito pouco se consiga fazer se a própria autarquia não o faz e tão pouco defende a paisagem urbanística que a mesma autarquia aprovou o projeto de urbanização.

Anónimo disse...

Falasse aqui de todos fazermos uma denuncia à CMA e seria de facto um bom passo, mas será que a autarquia teria em consideração tal denuncia? Se a câmara não consegue, por via legal, erradicar o b. santa Filomena para quê incomodar-se com os mamarrachos chamados "varandas panorâmicas"? No entanto podíamos tentar mas como há interesses instalados (a venda das ditas "janelas panorâmicas") não sei.....

Anónimo disse...

Concordo com o exposto, mas não creio que a CMA se vá interessar muito por fiscalizar o cumprimento da lei no que diz respeito às marquises... quando a própria deixa muito a desejar quanto ao ordenamento da própria cidade!

Anónimo disse...

Dia 1 julho, RTP 1, programa " Agora a Sério" 22.55, aos 11 minutos. " A cultura das marquises na Amadora".
Este tema das marquises até já serve para fazer humor, porque será?

Anónimo disse...

http://www.rtp.pt/play/p1895/e200262/agora-a-serio

Steven Dias disse...

Já agora, aproveito para reclamar, da mesma forma que se reclama sobre as marquises, também sobre :
- as paredes/para-ventos de canas que tapam as grades das varandas
- os toldos existentes nas varandas
- os vasos de plantas pendurados nas varandas, para fora, que põem, inclusivé, em causa a segurança dos transeuntes
- ter 4 cães de médio porte no apartamento, o que é proibido por lei (nao lei municipal mas sim lei de direito geral)

Estes pontos, e se calhar outros mais, que também alteram as fachadas, põem em causa a segurança e higiéne da vizinhança, deveriam de ser igualmente adicionados à queixa sobre as varandas fechadas. Não acham?

LMVS71 disse...

Este post reflecte bem a falta de civismo dos "vizinhos" e a falta de vontade das câmaras em resolver o assunto.
Uma varanda consta no projecto do prédio e a sua fachada só pode ser alterada mediante alteração do projecto na Câmara. Logo, se quiserem resolvem o problema e ainda ganham dinheiro com as multas que podem aplicar.
Relativamente a um comentário que li do tipo "a casa é minha faço o que quero", indico que isso é dentro de portas, a varanda faz parte da fachada do edificio e como tal não podem ser alteradas.

Anónimo disse...

Até posso concordar com a questão estética de que tanto se fala... Posso concordar com a teoria do "open space" num apartamento... Mas será que já alguém se questionou que em Vila Chã, as condicões atmosféricas fazem muitas vezes com que da varanda não se tire qualquer proveito?! Eu mesma já ali vivi...tinha uma varanda a qual pesou na minha decisão na compra da casa... Nunca a quis fechar precisamente por gostar de "arejar" dentro do meu espaço. No entanto, consigo compreender perfeitamente quem considere um desperdício de espaço se não a pode aproveitar face ao vento irritante daquela zona! Em vez de se preocuparem com questões estéticas, poderiam preocupar-se mais com qualquer outro assunto útil para a vizinhança..

Forum skyscrapercity disse...

Grande bimbo que você é.

Anónimo disse...

Quem não tem nada para fazer faz marquises e debates destes... lolol